Gestão Financeira

Está confirmado: não haverá Horário de Verão em 2025. O Ministério de Minas e Energia (MME) anunciou a manutenção da suspensão da medida, em vigor desde 2019. Mais do que uma simples decisão de calendário, o fim do Horário de Verão reflete uma mudança estrutural na economia brasileira e no perfil de consumo de energia.
O que antes tinha como justificativa a redução da demanda noturna hoje perdeu efeito. O consumo do país agora é ditado pelo uso massivo de ar-condicionado à tarde, tornando a antiga lógica de economia de energia obsoleta. Neste artigo, vamos analisar os impactos econômicos, a nova realidade do setor elétrico e quem ganha ou perde com a decisão.
A justificativa histórica para o horário de verão era puramente econômica: aproveitar a luz solar por mais tempo ao fim do dia para reduzir o consumo de energia elétrica no horário de pico (geralmente entre 18h e 21h).
Isso aliviava a sobrecarga no sistema elétrico. Essa realidade, no entanto, não existe mais.
Análises técnicas do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) mostram que o perfil de consumo do Brasil mudou drasticamente.
O grande vilão do consumo elétrico não é mais a lâmpada acesa no início da noite. O pico de demanda de energia do país deslocou-se para o meio da tarde, entre 14h e 15h.
A causa? O uso massivo de ar-condicionado e equipamentos de refrigeração em residências, comércios e escritórios, especialmente durante as ondas de calor.
Adiantar o relógio em uma hora não tem efeito sobre o consumo às 14h. Com isso, a economia gerada pela medida tornou-se marginal (inferior a 0,5%), não justificando mais os custos de adaptação social e econômica.
Para entender por que a medida se tornou obsoleta, a tabela abaixo compara a antiga realidade econômica com a atual:
| Pico de Consumo | Noite (18h - 21h) | Tarde (14h - 15h) | |||
| Principal Vilão | Iluminação residencial e pública | Ar-condicionado e refrigeração | |||
| Justificativa | Reduzir demanda na "hora da lâmpada" | Inexistente. A medida não afeta o pico da tarde. | |||
| Solução Proposta | Mudar o relógio (Gestão de Demanda) | Investir em Baterias (Gestão de Oferta) |
| Fator Econômico | Realidade Antiga (Até ~2018) | Realidade Atual (Pós-2019) |
| Pico de Consumo | Noite (18h - 21h) | Tarde (14h - 15h) |
| Principal Vilão | Iluminação residencial e pública | Ar-condicionado e refrigeração |
| Justificativa | Reduzir demanda na "hora da lâmpada" | Inexistente. A medida não afeta o pico da tarde. |
| Solução Proposta | Mudar o relógio (Gestão de Demanda) | Investir em Baterias (Gestão de Oferta) |
Com o fim do horário de verão, o governo sinaliza uma nova diretriz econômica para o setor elétrico. Em vez de uma medida paliativa para "gerenciar a demanda", o foco passa a ser o investimento em tecnologia para "gerenciar a oferta".
O ministro Alexandre Silveira já anunciou a principal estratégia: leilões para baterias de armazenamento.
Isso é crucial para a economia verde. O Brasil tem investido pesado em energias renováveis, como solar e eólica, que são intermitentes (só geram com sol ou vento). A solução econômica para garantir energia durante o pico da tarde é "armazenar o vento" e o sol gerados em outros horários, usando essas baterias de larga escala.
Este é um investimento em infraestrutura e tecnologia, muito mais alinhado às necessidades da economia moderna do que simplesmente mudar o fuso horário.
A decisão de manter o horário padrão o ano todo traz diferentes impactos para os setores econômicos.

Para a economia de larga escala, a notícia é excelente. Setores como a indústria, o transporte de cargas (logística) e o transporte aéreo ganham em previsibilidade.
A mudança sazonal de horário gerava custos de adaptação, necessidade de replanejamento de turnos e complexidade nas cadeias de suprimentos (supply chains) nacionais e internacionais. A estabilidade do horário reduz custos operacionais e simplifica a gestão.
O setor que mais sentirá o impacto é o varejo (comércio). Historicamente, a "hora extra de sol" no fim da tarde era vista como um incentivo ao consumo, mantendo as pessoas nas ruas e shoppings após o expediente.
Sem essa extensão, o setor de bares, restaurantes e comércio de rua terá que adaptar estratégias de marketing e gestão para atrair o consumidor no horário comercial padrão.
Para o trabalhador, o fim do horário de verão elimina os custos de adaptação do relógio biológico, gerando maior estabilidade nas rotinas de transporte e trabalho, o que pode se traduzir em leve ganho de produtividade ao evitar o período de cansaço sazonal.