Payroll (NFP): principal dado de Emprego nos EUA

Na primeira sexta-feira de cada mês, às 8h30 em Nova York, um número decide o humor de Wall Street: o Payroll. O balanço oficial de empregos dos EUA resume a força do mercado de trabalho e, em minutos, redesenha apostas para juros, dólar e bolsas.

O que é o Payroll e como funciona?

Em inglês, o termo se refere à “folha de pagamentos”. É a divulgação mensal do relatório de empregos não-agrícolas dos EUA, sendo um dos indicadores mais importantes da economia do país, bem como do Calendário Econômico global.

Este dado tende a impactar diretamente os mercados financeiros, com destaque para o Dólar, Juros e as Bolsas de Valores. Por exemplo, no Payroll de agosto, o mercado saberá das novas vagas de trabalho geradas em julho e assim sucessivamente. A divulgação é de responsabilidade do Bureau of Labor Statistics. O BLS é a agência oficial de estatísticas de trabalho dos Estados Unidos, ligada ao Departamento do Trabalho (U.S. Department of Labor). 

A sua função principal é coletar, analisar e divulgar dados econômicos e sociais relacionados ao mercado de trabalho, como salários, emprego, desemprego e inflação (CPI: Índice de Preços ao Consumidor). Estes dados divulgados são amplamente utilizados por diferentes setores, dos quais destacamos:

• Governo Americano: para decisões de políticas públicas;
• Governos Globais: rumos econômicos e políticos;
• FED (Federal Reserve): o Banco Central dos EUA para política monetária;
• Empresas: tendências econômicas e negócios;
• Investidores: oportunidades de alocação e trading;
• Pesquisadores e Imprensa: fonte confiável de informações;

Dentro do “pacote de dados” divulgados nas sextas de Payroll, além do número de empregos criados, também há as atualizações da taxa de desemprego, média de salário por hora e média de horas trabalhadas.

Via de regra, o Payroll tende a ser um termômetro sobre a saúde do mercado de trabalho dos EUA e, além de movimentar os mercados de Ações, Câmbio e Renda Fixa, também pode influenciar as Taxas de Juros.

Calendário do payroll

O Payroll costuma ser divulgado na primeira sexta-feira de cada mês, às 8h30 (ET), salvo exceções por feriado/adiantamento. O calendário oficial é mantido pelo BLS e é a referência para confirmar cada data.

Por que o Payroll exclui o setor agrícola?

Para que os dados sejam mais fidedignos e menos dispersos, alguns motivos técnicos e econômicos são considerados. O primeiro deles é devido a alta sazonalidade e volatilidade.

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Tanto nos EUA como em outros países, o setor agrícola passa por ciclos naturais de produção, que envolvem estações do ano para as colheitas e plantios, bem como as condições climáticas. Nestes meses específicos, há muita variação no número de trabalhadores contratados, que poderiam distorcer análises mais assertivas sobre o mercado de trabalho em geral.

Estes trabalhadores agrícolas são muitas vezes temporários, informais ou até mesmo contratados por curtos períodos, com pagamentos realizados por fora dos meios tradicionais, em alguns casos. Para que o payroll possa fazer um verdadeiro “raio-x” do mercado de trabalho nos Estados Unidos, o foco recai sobre setores de maior impacto, como serviços, indústria, construção, tecnologia, entre outros.

Nestes segmentos da economia, os empregos tendem a ser mais duradouros e formais, podendo oferecer panoramas mais consistentes e confiáveis. Podem proporcionar mais clareza na análise macroeconômica.

Emprego X Inflação X Juros

Historicamente, a título de comparação, quando temos o payroll vindo acima de 200 mil novas vagas de trabalho criadas, há um consenso de que o mercado de trabalho está aquecido. Abaixo disso, de que está retraindo.

Quando temos mais pessoas trabalhando, diretamente poderá haver um impacto na renda das famílias. Mais pessoas empregadas, mais salários, mais dinheiro em circulação. Estes valores tendem a ser canalizados para um maior consumo de produtos e serviços, que podem aumentar a inflação, devido à lei econômica de oferta e demanda.

Este princípio básico da economia ressalta que, quando há uma demanda maior do que a oferta, os preços tendem a subir para um ponto de equilíbrio superior afetado pela escassez. O FED tem uma meta de inflação que precisa ser cumprida e, para isso, a sua principal ferramenta de política monetária podem ser os juros.

Portanto, os dados de Payroll podem servir como uma métrica para essa tomada de decisão. Se o mercado de trabalho está aquecido, sabe-se que a inflação poderá subir no curto a médio prazo. Portanto, os investidores poderão prever que os juros tenderão a elevar-se também, a fim de controlar a inflação. A leitura pode ser invertida para um mercado de trabalho esfriando.

Os juros tendem a afetar a percepção de prêmio pelo risco. Quando os juros estão elevados, as Bolsas de Valores podem cair, já que a renda fixa tende a remunerar melhor e com menos risco. Quando os juros caem, as ações podem subir, tendo uma maior procura. O investidor pode aceitar um risco maior na sua carteira em busca de uma melhor remuneração focada em ganho de capital e dividendos.

Operar no dia do payroll: riscos, timing e boas práticas

Em dia de payroll, os mercados tendem a apresentar algumas características exclusivas. Geralmente, algumas horas antes da divulgação, há uma “paradeira”, como se o “mar” ficasse calmo. Isto ocorre devido a baixa liquidez, já que os grandes players tendem a esperar os dados para as suas tomadas de posições. 

No momento da divulgação, são comuns os movimentos explosivos para cima e para baixo ocasionando até os “slippages” (derrapagens). Traders iniciantes devem tomar cuidado, pois pode acontecer do mercado “pular” os pontos de stop loss e executar as ordens aquém daqueles níveis estipulados, causando prejuízos maiores do que o esperado.

Os traders mais conservadores preferem não operar no dia de payroll, já que eles acontecem na sexta-feira mesmo (fechamento da semana) e causam muita volatilidade, podendo não compensar o risco-retorno. Os operadores moderados podem esperar pelo menos 30 minutos após a divulgação para voltar ao mercado, já assentado e calmo novamente.

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Já os traders mais arrojados e experientes podem entender o risco e preferir tentar pegar os movimentos explosivos com estratégias diferenciadas e validadas ao longo do tempo.

Uma boa alternativa pra você que está começando na Bolsa de Valores e deseja entender melhor como o payroll afeta o mercado durante a sua divulgação, pode ser operar um conta demo com dinheiro fictício a título de aprendizado.

Nas próximas divulgações, o payroll seguirá ditando o tom das apostas para juros e, por tabela, para dólar e bolsa. O dado não resolve tudo, convive com revisões, contrastes entre as pesquisas e leituras que mudam ao sabor dos salários e da participação, mas continua sendo o ponto de partida do humor de mercado.

Para quem acompanha de perto, vale cruzar o número com a inflação oficial e o calendário de decisões do Fed; para quem opera, disciplina na execução e respeito ao risco ainda são as únicas constantes.