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Como a política monetária afeta o mercado de ações

como a politica monetaria afeta o mercado de ações

A política monetária tem sido o centro das atenções em praticamente todas as economias modernas. No Brasil, cada movimento do Banco Central em relação à taxa Selic provoca reações imediatas no mercado financeiro, nos preços ao consumidor e até no humor dos investidores. Decisões sobre juros, liquidez e crédito não ficam restritas ao campo técnico: elas afetam diretamente a vida de empresas e famílias.

Ao longo das últimas décadas, a relação entre política monetária, inflação e mercado de ações ficou cada vez mais evidente. Períodos de forte alta nos juros coincidiram com retração da atividade econômica e queda na bolsa, enquanto fases de flexibilização monetária trouxeram mais liquidez, expansão do crédito e valorização dos ativos de risco. Esse fio condutor ajuda a entender por que a Selic e o comportamento do Banco Central se tornaram variáveis observadas quase em tempo real por analistas, gestores e investidores.

O que é a política monetária?

Os governos costumam atuar na economia através de dois tipos de política econômica: a política monetária e a política fiscal. Esta é responsável por alterar o orçamento do Estado, isto é, receitas e gastos, e, no Brasil, é atribuição do Ministério da Fazenda. Desempenha um papel crucial nas contas públicas, na distribuição de renda e na estabilização macroeconômica.

👉 Política Econômica e Investimentos: Impactos, Riscos e Setores

No caso da política monetária, os instrumentos mais utilizados são: a taxa de juros definida pelo Banco Central (taxa Selic) e a quantidade de moeda em circulação na economia. O objetivo primordial da política monetária é o controle de preços, isto é, combater a inflação, e também garantir um crescimento econômico sustentável e de longo prazo. É de suma importância que ambas as políticas estejam de acordo, para que sejam eficientes de forma conjunta. Além disso, em alguns países o foco pode mudar.

A Europa concentra-se principalmente no combate à inflação (meta de 2% ao ano a médio prazo), enquanto os Estados Unidos também dão peso ao crescimento econômico, de acordo com a chamada Regra de Taylor.

O ciclo econômico e o hiato do produto

A política monetária e fiscal variam conforme o estado do ciclo econômico. Na Macroeconomia, o ciclo econômico pode ser compreendido como o hiato do produto (ou output gap, em inglês) e suas oscilações. Tal hiato é definido pela diferença entre o PIB real observado no período e o PIB real natural (ou tendência do PIB).

PIB potencial e PIB efetivo

  • Produto Interno Bruto Natural: Considerado equilíbrio de longo prazo, é o produto esperado que se pode obter na economia com a utilização máxima dos recursos produtivos disponíveis, ou seja, em condições normais (na ausência de ciclos). Portanto, é uma estimativa e de difícil exatidão, observada ex-ante.
  • Produto Interno Bruto Efetivo: É o produto efetivamente produzido no país e mensurado pelo IBGE (no caso do Brasil), observado ex-post.
Gráfico do ciclo econômico mostrando as fases de pico, recessão, depressão, vale, recuperação e expansão em relação ao PIB ao longo do tempo.
O ciclo econômico representa as fases de crescimento e contração da economia: pico, recessão, depressão, recuperação e expansão.

Output gap positivo e negativo

  • Output Gap Positivo: Significa que o Produto Efetivo é maior que o Produto Natural, ou seja, sinaliza um possível superaquecimento da economia, pois há uma produção acima do normal e esperado, além de maior inflação e menor desemprego. Seguindo a lógica macroeconômica, os governos, segundo a Regra de Taylor, podem aumentar a taxa de juros de modo a desacelerar a economia e diminuir a sobrecarga dos recursos, sendo isto uma política contra-cíclica e contracionista, com o foco na desaceleração da economia. Nestes casos, é de se esperar uma política monetária e fiscal contracionistas.
  • Output Gap Negativo: Significa que o Produto Efetivo é menor que o Produto Natural, sinalizando uma certa ociosidade da produção, podendo indicar uma recessão por parte do mercado, acompanhado de um aumento do desemprego e queda da inflação. A fim de fechar tal gap e aproximar o produto de sua tendência natural, o governo pode adotar uma política expansionista, reduzindo os juros (política monetária) ou aumentando os gastos públicos (política fiscal), entre outras iniciativas.

Impactos de diferentes cenários monetários

Existem dois tipos principais de abordagem da política monetária, que influenciam diretamente a atividade econômica e os setores de mercado:

Política monetária expansionista

Caracterizada pela redução da taxa básica de juros (no Brasil, a Selic), visando estimular o crédito, o consumo e os investimentos.

Quando a Selic cai, a renda fixa perde atratividade relativa, o crédito fica mais barato e investidores buscam ativos de maior risco, como ações. Isso impulsiona o apetite por risco e favorece setores dependentes do crédito e da confiança do consumidor, como varejo, construção civil, tecnologia e consumo discricionário.

Política monetária contracionista

Envolve o aumento da taxa de juros, com o objetivo de conter a inflação, reduzir o consumo e desacelerar o ritmo da economia.

Quando a Selic sobe, os rendimentos da renda fixa se tornam mais atrativos, o custo de contrair crédito aumenta e o apetite por ações tende a cair. Setores como varejo, construção e bens duráveis são os mais afetados negativamente. Já setores como bancos podem ter ganhos no curto prazo devido à ampliação do spread bancário, embora a demanda por crédito diminua.

No Brasil, essas decisões são tomadas pelo Copom (Comitê de Política Monetária), que se reúne periodicamente para definir o nível da Selic.

Gráfico do PIB potencial, PIB efetivo e hiato do produto no Brasil entre 1982 e 2021.
Evolução do PIB potencial e efetivo no Brasil e do hiato do produto entre 1982 e 2021, segundo dados do IBRE/FGV.

O Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) publica muitas análises de indicadores econômicos, dentre os quais estão os relacionados ao PIB e ao hiato do produto. Neste gráfico acima podemos analisar o PIB potencial, efetivo e o output gap de 1983 a 2022 no Brasil. Como exemplo, os anos de 2008 e 2020 registraram uma forte desaceleração econômica e um hiato negativo, isto é, o PIB efetivo ficou abaixo do potencial.

Desse modo, analisar o Hiato do Produto é fundamental para entender e diagnosticar o estado atual da economia, além de sinalizar ao governo qual política (monetária ou fiscal) ele deve seguir a fim de reduzir ou aumentar o gap.

Além disso, é essencial para as decisões das taxas de juro. Como exemplo, em caso de um output gap positivo e muito elevado, devido ao risco de uma pressão inflacionista, o Banco Central tende a aumentar os juros para contrair a economia. Assim, aumentos ou reduções dos juros impactam a procura e a oferta agregada e as decisões dos agentes econômicos de poupar, consumir e investir.

Relação entre política monetária e mercado de ações

Mudanças na taxa Selic afetam diretamente o custo do capital e os retornos esperados dos investimentos.

Historicamente, períodos de Selic baixa têm favorecido a valorização do Ibovespa, enquanto que a Selic alta costuma pressionar o índice para baixo. Por exemplo, entre 2017 e 2019, a queda gradual da Selic coincidiu com forte valorização da bolsa brasileira; já em 2015, com Selic acima de 14%, o mercado acionário enfrentou queda. Portanto, tendencialmente, há uma correlação empírica inversa entre a Selic e o Ibovespa.

Gráficos comparando a evolução do IBOVESPA e da taxa Selic entre 2004 e 2024, e em detalhe entre 2015 e 2024.
Correlação histórica entre o IBOVESPA e a taxa Selic. No longo prazo, períodos de queda da Selic costumam coincidir com valorização da bolsa brasileira.

Além disso, o impacto da política monetária varia de acordo com os setores:

  • Mais beneficiados em cenários de Selic baixa: varejo, construção civil, tecnologia e consumo discricionário.
  • Mais afetados em cenários de Selic alta: varejo, bens duráveis, construção.
  • Possíveis beneficiados em Selic alta: bancos (pela ampliação de spreads).

Inflação e poder de compra dos investidores

Como já explicado, a política monetária é uma ferramenta-chave no controle da inflação. Quando os preços sobem rapidamente, o Banco Central tende a elevar os juros para conter a demanda, protegendo o poder de compra da moeda e desacelerando a economia. Um nível de inflação elevado corrói o rendimento real dos investimentos e pode reduzir o consumo, afetando o lucro das empresas listadas na bolsa.

Liquidez e fluxo de capital estrangeiro

Mudanças nos juros também influenciam a entrada e saída de capital estrangeiro.

  • Juros mais altos atraem investidores externos para ativos de renda fixa, valorizando a moeda local, mas podendo desviar recursos da bolsa. Além disso, outro efeito esperado é o aumento de importações e diminuição de exportações, pois a moeda estará mais valorizada e os produtos relativamente mais caros.
  • Juros mais baixos podem estimular fluxo para ativos de risco, impulsionando setores sensíveis ao consumo e ao crédito, como varejo e construção.
  • Exportadoras, por sua vez, podem se beneficiar de um câmbio mais depreciado, comum em cenários de juros menores, favorecendo a balança comercial.

Como a Taxa de Juros é definida?

Criada pelo economista americano John Taylor, em 1993, após observar as decisões de política monetária das economias desenvolvidas em um conjunto de anos, a Regra de Taylor considera que as decisões de juro são fundamentalmente para enfrentar dois principais desafios da política monetária: Estabilidade de preços e redução de possíveis output gaps.

Ou seja, a taxa de juro objetivada pelo Banco Central é a que corrige os desvios da inflação face à meta inflacionária e/ou que reduz o hiato do produto, dependendo do peso que o BC coloca em cada um dos dois desafios, chamado de Grau de reatividade do Banco Central. Como exemplo, o Banco Central Europeu prioriza a estabilidade de preços e tem uma meta inflacionária de 2%. (portanto, pela Regra de Taylor: 𝛽𝜋 > 𝛽𝑌)

No caso brasileiro, o Banco Central também observa indicadores como inflação projetada, atividade econômica e expectativas do mercado antes de decidir o nível da Selic.

Se deseja entender em detalhe como funciona a Regra de Taylor e sua aplicação no Brasil e no exterior, confira nosso artigo completo sobre a Regra de Taylor

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