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Terras raras: como montar uma carteira satélite

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As terras raras estão no centro de cadeias de alto crescimento (ímãs para veículos elétricos e energia eólica). Para o investidor comum, a forma mais simples de participar do tema sem distorcer o portfólio é via carteira satélite: alocação pequena e controlada, com regras claras de entrada, tamanho de posição e rebalanceamento. Neste guia, você verá quanto alocar, como dimensionar cada posição e como manter a exposição ao longo do tempo.

O que é uma carteira satélite e por que usar em terras raras

Na prática, o satélite é um “anexo” tático do portfólio. Ao separar a aposta temática do restante, você limita o risco específico, documenta regras de entrada e saída e evita decisões impulsivas quando o noticiário esquenta.

Em terras raras, o satélite costuma ser construído com ETFs de metais estratégicos e, para quem aceita mais volatilidade, ações ligadas ao segmento de ímãs (midstream). A vantagem é dupla: exposição ao tema e governança de risco.

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Quanto do portfólio vai para o satélite

Defina uma alocação-meta coerente com experiência e tolerância a risco. Para iniciantes, uma faixa de 2% a 6% do portfólio total tende a ser manejável; investidores já acostumados com volatilidade podem trabalhar entre 5% e 8%, e raramente faz sentido ir além de 10% enquanto não há histórico próprio.

Dentro do satélite, convém ter um instrumento principal e, opcionalmente, um complemento. Isso simplifica decisões e facilita o rebalanceamento.

Perfis de alocação do satélite (exemplo)

Conservador3%100% ETF do temaExposição simples e barata
Moderado6%60% ETF principal · 40% complementoDiversificar sem complexidade
Ativo8-10%50% ETF principal · 30% ETF secundário · 20% ação de midstreamAumentar convexidade com controle

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Tamanho de posição: três caminhos que funcionam

O dimensionamento (“position sizing”) precisa caber no bolso e na mente. Escolha um método e siga-o com consistência.

  • Percentual do capital. Divide o satélite em 2-3 linhas proporcionais. Se o satélite for de R$ 5.000, duas posições de ~R$ 2.500 cada ou três de ~R$ 1.650 reduzem a chance de erro grosseiro. É o método mais simples.
  • Percentual de risco por trade. Aqui você decide quanto está disposto a perder se o stop for acionado. Exemplo: carteira total de R$ 100.000, risco por trade de 0,5% (=R$ 500) e stop técnico de 10%. O número de cotas é: risco por trade ÷ (preço × stop%). Se o ETF custa R$ 40, você compraria 500 ÷ (0,10 × 40) = 125 cotas (cerca de R$ 5.000), mantendo o risco sob controle.
  • Volatilidade (ATR/desvio). Mantém o valor por posição inversamente proporcional à volatilidade recente do ativo. Serve como ajuste fino: quando a volatilidade sobe, a posição encolhe; quando cai, cresce.

Exemplo numérico de sizing (carteira R$ 100.000; satélite 5%)

% do capital2 posiçõesR$ 5.000 ÷ 2~R$ 2.500 por posição
% de riscoRisco 0,5%; stop 10%; preço R$ 40500 ÷ (0,10 × 40) = 125 cotas~R$ 5.000 (1 posição)
VolatilidadeATR alto vs. baixoPosição menor quando ATR↑Ajuste sobre os dois acima

Rebalanceamento sem complicação

Rebalancear é trazer o satélite de volta à meta definida. Há três jeitos práticos.

  • Calendário. Mensal ou trimestral. É o mais fácil: em datas fixas, você corrige eventuais desvios usando aportes ou pequenas vendas. Simples de explicar e de executar.
  • Bandas (threshold). Em vez de datas, você atua apenas quando o peso do satélite sai da faixa de tolerância (por exemplo, meta 6% com banda ±20% ⇒ intervir abaixo de 4,8% ou acima de 7,2%). Costuma reduzir custos e ruído.
  • Fluxos de caixa. Aportes e retiradas viram a principal ferramenta de ajuste. É eficiente fiscalmente e exige pouca fricção operacional.

Simulação de rebalance com bandas (meta 6%; faixa 4,8-7,2%)

M06,0%Dentro da meta
M17,5%Vender até 6,5%Realiza parte do ganho e reduz risco
M25,1%Aportar até 6,0%Reforça a tese sem perseguir preço
M34,6%Comprar até 5,5%Volta para a faixa de controle

Custos, spread e liquidez: o que realmente pesa

O retorno do investidor não depende apenas da direção do tema; custos e execução fazem diferença.

  • Taxa do fundo (TER) é o custo explícito do ETF. Compare prospectos e não olhe só para a taxa: entenda o índice seguido e a política de amostragem.
  • Spread é o pedágio invisível entre compra e venda. Ele varia ao longo do dia e tende a ser menor no “miolo” do pregão da bolsa onde o ETF é listado. A meta prática é operar com spread o mais baixo possível para o seu ticket, evitando leilões de abertura e fechamento.
  • Liquidez deve ser lida em conjunto: volume médio diário, profundidade do book de ofertas e relação entre o tamanho da sua ordem e o fluxo do ativo. Ordens grandes para o volume disponível aumentam o custo de impacto.
  • Tracking difference/erro mostram o quanto o ETF se desvia do índice que pretende replicar. Um desvio pequeno e estável é desejável; desvios persistentes podem sinalizar custos implícitos ou fricções do índice.

Carteiras satélite com ativos concretos (modelos e simulação)

Para transformar o conceito em prática, seguem ativos representativos e três modelos de carteira. Use como ponto de partida e ajuste aos seus horários de negociação, corretora e restrições pessoais.

Opções de exposição (dados essenciais)

VanEck Rare Earth & Strategic Metals ETF (REMX)ETFEUA0,58%NYSE Arca (horário EUA)Exposição ampla a mineradoras/metais estratégicos
VanEck Rare Earth & Strategic Metals UCITS (REMX UCITS)ETFIrlanda (UCITS)0,59%LSE (REMX), Xetra (VVMX), SIX, Borsa ItalianaMesma tese em estrutura UCITS; múltiplas venues europeias
WisdomTree Strategic Metals & Rare Earths Miners UCITS (RARE)ETFIrlanda (UCITS)0,50%LSE (RARE) e demais praças europeiasÍndice próprio com ênfase em mineradoras
MP Materials (MP)AçãoEUANYSECadeia mine-to-magnet em expansão
Lynas Rare Earths (LYC)AçãoAustráliaASXSeparação/refino com histórico operacional
Neo Performance Materials (NEO)AçãoCanadáTSXMidstream (pós/ímãs NdFeB) com footprint global

Observação: mantenha foco em liquidez e custos do seu venue. Se operar no horário da Europa, UCITS tende a facilitar execução; se operar no horário dos EUA, listagens americanas simplificam.

Modelos de carteira satélite (escolha 1)

Simples (1 linha)4%REMX 100%Quem opera no horário EUA e quer máxima simplicidade
UCITS puro (2 linhas)6%REMX UCITS 70% · RARE 30%Quem prefere estrutura UCITS e duas venues europeias
Misto (ETF + midstream)8%REMX 60% · MP 25% · NEO 15%Quem aceita mais volatilidade adicionando midstream

Simulação didática (6 meses): UCITS puro (meta 6%)

Ponto de partida (M0). Carteira total de R$ 100.000; satélite em 6% (= R$ 6.000) com duas linhas: REMX UCITS (70% = R$ 4.200) e RARE (30% = R$ 1.800). As ordens são limitadas e executadas no miolo do pregão europeu.

Evolução e manutenção. Na janela M0→M2, REMX UCITS sobe mais que RARE; o satélite atinge 6,9%. Ainda está dentro das bandas de tolerância (4,8-7,2%), então não há ação — evita-se overtrading. Entre M2→M4, novas altas levam o satélite a 7,3%; por estar acima da banda, realiza-se parte do lucro e o peso volta a 6,6%. Entre M4→M6, ocorre correção moderada e o satélite cai a 5,5%; um pequeno aporte repõe a meta de 6,0%. O processo mantém a exposição sem “perseguir preço”.

Resumo da simulação (UCITS puro, meta 6%)

M06,0%6,0%
M2REMX UCITS ↑, RARE ↑Leve queda6,9%Sem intervenção6,9%
M4REMX UCITS ↑, RARE ↑Leve alta7,3%Realizar parcial6,6%
M6REMX UCITS ↓, RARE ↓Leve alta5,5%Aportar6,0%

Leituras principais. A combinação de dois UCITS suaviza oscilações específicas; bandas acionam poucas intervenções e reduzem custos; variações do câmbio alteram o peso em BRL, justificando revisões periódicas de hedge conforme volatilidade.

Como adaptar para horário EUA

Se preferir operar nos EUA, substitua o par UCITS por REMX (EUA). As mesmas regras de bandas e execução se aplicam; concentre ordens no período de maior liquidez do venue americano. Em tickets maiores, fracionar entradas e saídas reduz impacto no spread.

Execução inteligente: da checklist ao clique

A ordem limitada é o padrão para quem preza custo e previsibilidade. Ajuste o preço limite levemente dentro do spread observado, evitando agressões desnecessárias. Em tickets maiores, fracionar a entrada em duas ou três ordens reduz o risco de varrer o book inteiro.

Prefira negociar quando há mais participantes ativos, normalmente no meio do pregão da venue principal do ETF. Se sua corretora permite escolher a praça de negociação, priorize a listagem com melhor liquidez no seu horário.

Ao montar a saída, pense em dois níveis: realização parcial em degraus para consolidar ganhos e um trailing stop simples para proteger o que foi acumulado. Quem prefere regras objetivas costuma usar médias móveis longas, enquanto perfis mais ativos combinam mínimos recentes com volatilidade.

Moeda e hedge cambial

Se sua base é BRL e o ETF está em USD, a oscilação do câmbio altera o resultado final. Um ganho de +10% no ETF, com −5% no USD/BRL no período, vira algo próximo de +4,5% em reais. O hedge reduz essa interferência, mas tem custo. Ele tende a fazer mais sentido quando a volatilidade do real está elevada ou quando o horizonte de investimento é curto. Quem mantém horizontes longos e contribuições periódicas muitas vezes aceita a exposição cambial como parte da diversificação.

Checklist antes de montar a carteira satélite

  1. Definir meta do satélite (ex.: 6%).
  2. Escolher método de sizing (capital, risco ou volatilidade).
  3. Definir regra de rebalance (calendário/bandas/fluxos).
  4. Verificar custos totais (TER, corretagem, impostos, câmbio).
  5. Planejar entrada/saída (MM200, trailing, realizações parciais).
  6. Decidir sobre hedge cambial (se necessário).
  7. Checar liquidez e horários do ETF escolhido.
  8. Anotar as regras em 1 página e seguir o plano.

Exemplo completo: do plano ao trade

Imagine uma carteira de R$ 100.000. Você decide por um satélite de 6% (R$ 6.000) com duas linhas: um ETF principal (R$ 3.600) e um complemento (R$ 2.400). Escolhe o método de risco por trade com limite de 0,5% da carteira (=R$ 500).

O ETF principal custa R$ 40 e seu stop técnico é de 10%: cabem 125 cotas (R$ 5.000) se quisesse dedicar o satélite todo àquela linha; como a meta da linha é R$ 3.600, você compra 90-95 cotas e guarda o restante para o complemento. As ordens são colocadas limitadas no período de maior liquidez.

Em 30 dias, o peso do satélite sobe para 7,4%: como está fora da banda (7,2%), você realiza uma parte, volta a 6,5% e registra a decisão. Em mais 30 dias, cai para 5,2%: com um pequeno aporte, retorna à meta de 6,0% sem “perseguir preço”.

AlocaçãoSatélite em 6% do portfólioBandas de 4,8%-7,2%Documento de política do investidor
SizingRisco por trade de 0,5%Stop técnico de 10%Cálculo das cotas por operação
ExecuçãoOrdens limitadas no miolo do pregãoFracionamento em 2-3 lotes se necessárioSlippage reduzido e spread controlado
ManutençãoRebalance por bandas + fluxosAporte para corrigir quedas; realização parcial em altasHistórico de intervenções e justificativas
MoedaSem hedge por oraRevisão trimestral do câmbio/volatilidadeRegistro de custo e impacto cambial

Uma carteira satélite bem desenhada permite participar do tema de terras raras sem transformar o portfólio em uma aposta única. O segredo está menos em “acertar o topo e o fundo” e mais em processo: alocação-meta clara, posição do tamanho certo, rebalance disciplinado e execução cuidadosa. Revise o plano periodicamente, mantenha a simplicidade e deixe que o tempo e a consistência façam o trabalho pesado.

FAQs das carteiras satélites

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